segunda-feira, 23 de março de 2009

A Luta contra o Peão Dama Isolado

Caros Amigos

Olá!

Em uma matéria anterior defendi o lado do Peão Dama Isolado. Hoje defenderei o outro lado ,ou seja mostrarei duas partidas as quais quem está jogando contra o PDI leva vantagem. Uma delas é um exemplo clássico entre duas lendas do xadrez : Anatoly Karpov e Victor Kortchnoi , jogado no match pelo Campeonato Mundial em Merano ,no ano de 1981. A outra é da minha prática enxadrística.

(1) Kortchnoi,Victor - Karpov,Anatoly [D53]

Match pelo Campeonato Mundial (9) Merano, 1981



1.c4 e6 2.Cc3 d5 3.d4 Ae7 4.Cf3 Cf6 5.Ag5 h6 6.Ah4 0-0 7.Tc1 dxc4 8.e3
[Parecia mais ativo 8.e4 ,entretanto após : 8...Cc6 9.e5 (se 9.Axc4 Cxe4! 10.Axe7 Cxc3 11.Axd8 Cxd1 12.Axc7 Cxb2 13.Ab5 a6 14.Ae2 (14.Axc6 Cd3+ 15.Rd2 Cxc1 16.Ae4 Cxa2 17.Ad6 Td8 18.Ac5 e5 19.Cxe5 (19.Ta1 Ae6) 19...Cb4) 14...Cb4 15.0-0 Cd5 e não se vê uma compensação muito clara pelo peão) 9...Cd5 10.Axe7 Ccxe7 11.Axc4 Cxc3 12.bxc3 b6 13.De2 Ab7 14.Aa6 Ad5 15.0-0 c5 16.dxc5 bxc5 17.Ac4 (V. Tukmakov - A. Belyavsky ,Tilburg 1984) ,nenhum dos bandos poderia reclamar qualquer vantagem.] 8...c5 9.Axc4 cxd4 10.exd4 [As brancas poderiam ter optado por 10.Cxd4 ,porém a pequena vantagem no desenvolvimento seria insuficiente para alterar o equilíbrio estabelecido pela simetria da estrutura de peões.]



Chegamos a uma posição típica do Peão da Dama Isolado. Em essência representa uma debilidade ,mas na situação em que se encontra concede as brancas uma considerável vantagem de espaço ,além de assegurar ao cavalo branco de "f3" um importante ponto de apoio em "e5".Se estas conseguirem se apoderar da iniciativa então tudo estará compensado , mas se limitarem apenas a defesa de sua fraqueza ,então as pretas poderão contar com um futuro mais promissor. 10...Cc6 11.0-0 Ch5! [As pretas aproveitam-se da posição do bispo branco em "h4" para realizar uma útil simplificação ,pois com a troca das peças menores diminui o vigor da iniciativa branca. 11...Cb4 com a ideia de bloquear o peão "d4" era uma outra alternativa; enquanto que 11...Cd5 12.Ag3 as brancas poderiam evitar a troca dos bispos (se 12...Cxc3 13.bxc3 e o peão "d4" deixaria de ser débil).] 12.Axe7 Cxe7 13.Ab3 [As brancas poderiam ter se desfeito de sua debilidade mediante : 13.d5 exd5 14.Cxd5 Cxd5 15.Axd5 Cf4 16.Ae4 Dxd1 17.Tcxd1 Ae6 ,contudo a posição resultante levaria apenas a um precoce empate. Teria sido algo frustrante para um lutador da estirpe de Kortchnoi ,principalmente levando-se em conta o placar adverso àquela altura do match.] 13...Cf6 14.Ce5 Ad7 15.De2 Tc8 16.Ce4? [Esta simplificação não faz mais do reduzir as possibilidades ofensivas e muito em breve restará apenas o lado negativo do peão isolado. Melhor teria sido 16.Tfe1 ao que as negras poderiam responder com 16...Tc7 a) ou 16...Ae8 e o jogo prosseguiria indefinido.; b) Ao passo que se : 16...Ac6? seguiria um típico sacrifício : 17.Cxf7 Txf7 (17...Rxf7 18.Axe6+ Re8 19.Axc8) 18.Dxe6; ] 16...Cxe4 17.Dxe4 Ac6 18.Cxc6 Provavelmente teria sido mais razoável evitar esta nova troca ,embora o bispo negroficasse forte na grande diagonal. 18...Txc6 19.Tc3 [Nos resta crer que Kortchnoi pretendia jogar 19.Txc6 e apenas agora se apercebeu que após 19...bxc6! sua posição seria difícil ,pois o cavalo provar-se-ia muito mais eficaz do que o bispo, já que ele tanto poderia defender o peão de "c6" quanto atacar o peão "d4" , enquanto que o bispo poderia somente realizar uma das funções. (Claro que se : 19...Cxc6 20.d5 exd5 21.Axd5 o bispo tornar-se-ia superior ao cavalo.) ] 19...Dd6 20.g3 [Este movimento impede a passagem da torre ao flanco do rei e consequentemente as brancas abandonam qualquer esperança de ataque neste setor. Embora depois de : 20.Ac2 g6 21.Th3 Cf5 não se veria como aproveitar as debilidades negras próximas ao rei.] 20...Td8 21.Td1 Tb6 Agora ,sem a necessidade de se preocupar com a defesa ,Karpov inicia uma série de manobras que visam atar as peças de seu oponente à defesa do ponto vulnerável "d4". 22.De1 Dd7 23.Tcd3 Td6 24.De4 Dc6 25.Df4 [Não era de se recomendar : 25.Dxc6 Cxc6 26.d5 Cb4 e o peão cairia.] 25...Cd5 26.Dd2 Db6 27.Axd5?! [As brancas deveriam ter se defendido da ameaça Cb4 com 27.a3 . Talvez o cavalo seja incômodo ,mas o desenrolar dos acontecimentos vai mostrar que com apenas peças pesadas na partida o cerco ao peão isolado fica facilitado.] 27...Txd5



Todas as peças menores desapareceram de cena. Como incrementar o ataque a "d4" ? Para essa função o peão "e6" pode servir de aríete. Já existe a possibilidade de e5. 28.Tb3 Dc6 29.Dc3 Dd7 30.f4 Essa era a única maneira de evitar a ameaça citada anteriormente. No entanto , há uma grave contra-indicação para esta solução : se algum dia as peças pesadas negras penetrarem na sétima fila o rei branco pode correr um grave risco. Como muitas vezes acontece para se livrar de um problema cria-se outro às vezes maior. 30...b6 31.Tb4 b5 32.a4 Forçado em vista da possibilidade de a5 seguido de b4. 32...bxa4 33.Da3 a5 34.Txa4 Agora a torre e a dama brancos encontram-se presos à ala da dama. As pretas repentinamente mudam o seu foco : desistem do sítio à debilidade "d4" e partem para a caça ao rei branco. 34...Db5 35.Td2 e5! 36.fxe5 Txe5 37.Da1 As brancas momentâneamente impedem a invasão das duas primeiras filas. 37...De8! 38.dxe5 [Já não era possível evitar a entrada da torre : 38.Rf2 Tf5+ 39.Rg2 De4+] 38...Txd2 Agora torna-se muito visível a ausência do peão "f2". Resta apenas à dama negra coordenar suas ações com a torre para decidir o resultado da contenda. 39.Txa5 Dc6 40.Ta8+ Rh7 41.Db1+ g6 42.Df1 Dc5+ 43.Rh1 Dd5+ seguido de Td1. 0-1






Referências : Anatoly Karpov's Best Games (partida 12 pag. 55).

(2) Alonso,Nicolas - Matsuura,Everaldo (2405) [D48]

Brasil op Jundiai, 1998



1.d4 d5 2.c4 e6 3.Cc3 c6 4.e3 Cf6 5.Cf3 Cbd7 6.Ad3 dxc4 7.Axc4 b5 8.Ad3 a6 9.0-0
[A melhor chance (senão a única) das brancas lutarem pela iniciativa é com : 9.e4 c5 10.e5 (ou 10.d5 ) ] 9...c5 10.b3 Ab7 11.Ab2 cxd4 12.exd4



[Como as brancas já tinham se decidido pelo "fianchetto" do bispo da dama , é provável que fosse mais aconselhável 12.Cxd4 . O bispo em "b2" não tem muita utilidade nas posições com o peão dama isolado.] 12...Ae7 13.De2 0-0 14.Tac1 [14.Ce5 Cb6] 14...Cb6 15.Ce4 [Este lance leva a troca de duas peças menores ,o que não condiz com as necessidades da posição branca (já vimos que esse tipo de simplificação favorece às negras).De todas as formas após : 15.Tfd1 Cbd5 não seria fácil às brancas atacarem o flanco do rei.] 15...Cxe4 16.Axe4 Axe4 17.Dxe4 Dd5 18.Dxd5 [Esta nova troca seria justificável se as brancas pudessem se aproveitar da coluna "c" ,o que não parece muito provável aqui. 18.Dg4 traria melhores perspectivas às brancas.] 18...Cxd5 19.g3 [Era melhor 19.Ce5 para assegurar o controle da casa "d3". 19...Tfc8] 19...Cb4 20.a4 [O principal problema dessa jogada é que as pretas vão se apoderar da coluna "c". Depois de 20.Aa3 Tfc8 as negras teriam apenas uma pequena vantagem.] 20...Cd3 21.Tc2 Tfc8 22.Td2 Cxb2 23.Txb2 Tc3 24.Rg2 b4 Um lance profilático. Como as pretas pretendem utilizar a torre de "a8" nas colunas "c" ou "d" ,é prudente evitar a abertura da coluna "a" para não dar a possibilidade de contrajogo ao adversário por esta via. 25.Td1 Td8 26.Tdd2 f6 27.Te2 Rf7 28.Te3 Td7 Deixando a casa "d8" livre para o bispo. 29.Tbe2 Tc6 30.h4 Ad8 31.Td2 Ab6 Incrementando a pressão sobre o peão "d4". 32.Ted3 Tc3 33.Txc3?! [As pretas estavam ameaçando e5. Era difícil se decidir por 33.Te3 ,mas após : 33...e5 34.a5 Axd4 35.Cxd4 Txd4 36.Txd4 exd4 37.Te4 Td3 38.Rf1 f5 39.Tf4 Re6 40.Re2 Txb3 41.Txd4 as brancas conservariam chances de salvação.Agora o peão "b3" torna-se um alvo fácil.] 33...bxc3 34.Tc2 Aa5 35.Tc1 Tb7 36.Tb1 As brancas contavam bloquear o peão passado negro com Ce1 e Cc2. Porém não haverá tempo para essa manobra.



36...Txb3! 37.Txb3 c2
.Se 38.Tb7 Rg6 e a casa "c7" também esta inacessível à torre branca. 0-1









sábado, 7 de março de 2009

A Superproteção de Nimzowitch

Caros leitores

Olá!

Nesta oportunidade farei uma citação à clássica obra de Aaron Nimzowitch : "Meu sistema".

Este livro , escrito nos anos 20 do século passado , ainda hoje encontra-se na cabeceira de jogadores dos quatro rincões do planeta (principalmente aqueles adeptos de uma boa leitura filosófica).

Mais especificamente abordarei o conceito de superproteção. Para ilustrar darei um exemplo da obra em questão e um outro da minha própria experiência enxadrística. Nos comentários mostrarei não apenas as palavras do inventor do conceito , mas também a minha visão pessoal das partidas.

(1) Nimzowitch,A. - Giese [B12]



(Quando não houver citação os comentários serão de minha autoria). 1.e4 c6 2.d4 d5 3.e5 Af5 4.Ad3 Axd3 5.Dxd3 e6 6.Ce2 Db6 7.0-0 Da6 8.Dd1 Cd7




Esta poderia ser a sequência inicial de lances, pois na obra citada a partida começa desde esta posição ,esboçada num diagrama. Aqui pondera Nimzowitch : " Podemos observar a "superproteção necessária em "e5" , que é um peão forte que tem avançado bastante. Vemos que a defesa atual ("d4") é insuficiente , porque as brancas devem contestar à jogada negra c5 com dxc5 ( equivalente a perda da base da cadeia e ao abandono da casa "d4") e, portanto ,superprotegeremos "e5" com o auxílio de peças da seguinte forma " : 9.Cd2 Ce7 10.Cf3 Primeira proteção do ponto forte "e5". 10...Cg6 [Um jogador com espírito moderno teria preferido 10...c5 e se 11.dxc5 ,como recomendaria Nimzowitch, (11.c3 Cc6) 11...Cc6 12.Af4 Axc5 a iniciativa branca no flanco do rei seria dificultada pela necessidade constante dos "superprotetores" vigiarem o seu "protegido" , além da ausência do bispo de casas brancas para atacar o ponto "h7".] 11.Te1 Segunda proteção de "e5". 11...Ab4 12.c3 Aa5 13.Af4 Terceira proteção de "e5". 13...0-0 14.Ag3 Ac7 15.Cg5 Nas palavras de Nimzowitch : "Agora de forma drástica documenta-se a força interna da superproteção. Os superprotetores semimortos , que eram Cf3 , Bf4 e a veterana Te1 , ao sairem de seu sono desenvolvem uma ação considerável." 15...Tfe8 [Ainda não era tarde para 15...c5 , por exemplo : 16.Cf4 Cxf4 17.Axf4 f6 18.Cf3 (18.exf6 Axf4 19.Cxe6 Txf6 20.Dg4 Tg6 21.Df5 Ae5 22.Cxc5 Cxc5 23.dxc5 Af6 24.Dxd5+ , a peça a menos está compensada pelos três peões.) 18...cxd4 19.cxd4 fxe5 20.Axe5 Cxe5 21.Cxe5 Axe5 22.Txe5 Tf6 e se existisse alguma vantagem branca esta deveria ser mínima ,pois a debilidade do ponto "e6" em grande medida pode ser compensada pelo peão "d4".] 16.Cf4 Ch8 [As pretas ,em vão ,creem que a defesa de "f7" e "h7" basta para neutralizar o ataque branco.Aqui ,ou mais adiante ,era necessário 16...Ad8 para eliminar o cavalo de "g5".] 17.Dg4 Cf8 18.Te3 "Pode-se apreciar como a veterana torre estava a espera da luta que se vai desencadear." (Nimzowitch) 18...b6 [Creio que todos teremos uma "ligeiríssima" impressão que há assuntos mais importantes ocorrendo na outra ala .Era a última oportunidade para 18...Ad8 ] 19.Ch5 Chg6 20.Tf3 Te7 21.Cf6+ Rh8 Segundo Nimzowitch as brancas poderiam concluir a partida (o que de fato aconteceu não o sabemos) com : 22.Cfxh7 Cxh7 23.Cxf7+ Txf7 24.Txf7 Nimzowitch conclui dizendo : "A ideia de fundo era a seguinte : a superproteção de uma casa importante (no caso "e5") constitui uma "boa ação" , e tem sua recompensa pela ampliação do raio de ação dos superprotetores". 1-0






(2) Matsuura,Everaldo - Madeira,Wagner M. [B05]

Jogos Abertos do Interior Campinas, 1994



1.e4 Cf6 2.e5 Cd5 3.d4 d6 4.Cf3 Ag4 5.Ae2 e6 6.0-0 Ae7 7.c4 Cb6 8.Cc3 0-0 9.Ae3 a6?!
[Este lance ,aliado ao seguinte ,mais propriamente representa uma perda de tempo . Se as pretas desejavam realizar 9...d5 deveriam tê-lo feito agora. Depois de : 10.c5 Axf3 11.gxf3 (11.Axf3 Cc4 12.Ac1 b6 13.b3 Ca5) 11...Cc8 a estrutura do flanco do rei branco teria sofrido uma avaria.] 10.b3 d5 [10...Cc6 seria um contrasenso à jogada anterior : 11.exd6 cxd6 12.d5 exd5 (12...Axf3 13.Axf3 Ce5 14.dxe6 Cxf3+ 15.Dxf3 fxe6 16.Dxb7) 13.Axb6 (13.Cxd5 Cxd5 14.Dxd5) 13...Dxb6 14.Cxd5] 11.c5 C6d7 A estrura central lembra uma Defesa Francesa .Há ,no entanto, duas diferenças fundamentais (uma a favor de cada bando) :o bispo negro de casas brancas está fora da cadeia (aparentemente favorável às negras) e o peão branco em c5 (a favor das brancas) .Neste momento percebi que poderia utilizar o conceito da "superproteção" em uma circunstância favorável , pois a ruptura c5 já não existe. 12.Ce1! Axe2 13.Cxe2!



Agora as brancas poderiam responder à ruptura f6 com Cf4 e o peão de "e6" encontrar-se-ia em sérios apuros. 13...Cc6 [13...f6 14.Cf4] 14.Cd3 b6 15.b4 Assim as brancas tem "superprotegidos" os seus peões "e5" , "d4" e "c5" . Estes pontos são de importância estratégica : "e5" concede vantagem de espaço na ala do rei e ,portanto, possibilidades de ataque às brancas ; "d4" é a base da cadeia branca ;e finalmente "c5" impede o contrajogo negro por meio de c5. 15...Db8 [Se 15...a5 16.b5 Cb4 17.c6 Cb8 e este cavalo assistiria ao resto da partida sem sair do lugar.] 16.Cef4 Agora ,parafraseando Nimzowitch, "os superprotetores começam a sair de seu sono". 16...Te8 17.Dg4 Cf8 18.Ch5 Cg6 19.f4 Diferentemente ao exemplo dado por Nimzowitch as brancas optam pela ruptura f4-f5 para que as duas torres possam operar contra o ponto "f7". 19...Cd8 20.f5 exf5 21.Txf5 bxc5 22.bxc5 Db5 23.Cdf4 Db2?! [Após : 23...Dc4 24.Tf1 Tf8 25.Cf6+ gxf6 26.exf6 Axc5 27.dxc5 Ce6 (27...De4 28.Dh3) 28.Dh3 o ataque branco, apoiado agora pelo posto avançado "f6" , desenvolve-se naturalmente.; As pretas poderiam , no entanto, opor uma defesa mais tenaz : 23...Dc6 24.Tf1 Tf8 e ,posto que a vantagem branca fosse evidente , não se veria nenhum arremate imediato.] 24.Tf1 Dxa2 [24...c6 não evitaria o sacrifício em f7 : 25.Txf7 Cxf7 26.Cxg6 Ag5 27.Axg5 hxg6 (27...Cxg5 28.Dd7 Ch3+ 29.gxh3 Dxd4+ 30.Tf2 Dd1+ 31.Rg2) 28.Af6 (28.Dd7 Dxd4+ 29.Rh1 Tf8 30.e6 Cxg5) 28...gxf6 29.Dxg6+ Rf8 30.Dg7+ Re7 31.Dxf6+] 25.Txf7! Um sacrifício já conhecido do leitor! 25...Cxf7 26.Cxg6 Ag5 [Havia a ameaça Cxe7 seguido de Dxg7. A captura 26...hxg6 conduziria ao mate : 27.Dxg6 Af8 28.Cf6+] 27.Axg5 hxg6 28.Dd7 gxh5 [Era mais resistente 28...Tf8 , embora após : 29.e6 gxh5 30.exf7+ Rh7 31.Ae7 De2 32.Dxd5 De3+ (32...Dxe7 33.Dxh5#) 33.Rh1 De2 34.Df5+ g6 35.Df6 a vitória estaria a um passo de distância.] 29.Dxf7+ Rh8 30.Dxh5+ Rg8 31.Df7+ Rh8 32.Af6 Farei aqui uma breve explanação sobre o meu próprio ponto de vista acerca do desenrolar dos acontecimentos : 1) As brancas possuiam vantagem de espaço na ala do rei proporcionado pelo peão "e5" ; 2) As pretas ficaram impossibilitadas de romper neste ponto e também em sua base ("d4"), em parte devido aos "superprotetores" ,e em parte ao peão "c5" ; 3) A vantagem espacial normalmente concede mais possibilidades de ataque , pois é muito mais fácil e rápido para o lado que a possui transferir os efetivos para este setor ; 4) Próximo ao desenlace final o bando atacante havia concentrado mais forças no flanco do rei do que o oponente ; 5) O arremate final foi uma consequência da conclusão anterior. 1-0







segunda-feira, 2 de março de 2009

Temas Combinatórios II - Sacrifício de Torre em "f7"

Olá amigos !

Hoje mostrarei dois exemplos de um tipo de combinação não muito comum na prática : o sacrifício de torre na casa "f7". Claro que com o cavalo ou o bispo o tema é bem mais corriqueiro.

Ambas partidas originaram-se não apenas da mesma abertura , como também da mesma variante. Desta maneira poderíamos considerá-las como irmãs , embora não gêmeas.

A movimentação da torre nos dois casos foi vertical , ou seja , através da coluna "f". Algumas vezes o sacrifício ocorre horizontalmente , a saber , pela sétima fila . Em uma outra oportunidade espero dar exemplos desse último tipo também.

(21) Matsuura,Everaldo - Stamenkovic,Dragan [B29]

Campeonato Paulista do Interior Santos, 2008



1.e4 c5 2.Cf3 Cf6 3.e5
[Outra alternativa seria: 3.Cc3 d5 , como na partida Kramnik - Seirawan , Amsterdam 1996.] 3...Cd5 4.Cc3 [Depois de 4.c3 passaríamos a Variante Alapin. Com o lance do texto entramos na Variante conhecida como Nimzo-Rubinstein.] 4...e6 [Aqui também é possível: 4...Cxc3 5.dxc3 Cc6 6.Af4 . O lance do texto dá origem a uma posição mais aguda.] 5.Cxd5 exd5 6.d4 Cc6 [A melhor opção . Se: 6...d6 7.Ab5+ Cc6 (7...Ad7 8.Axd7+) 8.De2 , as brancas se apoderam da iniciativa.] 7.dxc5 Axc5 8.Dxd5 Db6 [As pretas poderiam intercalar 8...d6 9.exd6 antes de 9...Db6 10.Ac4 Axf2+ . E agora , com a coluna "e" aberta é melhor 11.Rf1] 9.Ac4 As brancas além de devolver o peão ficarão com o rei no centro. Parece um contrasenso , não ? Vejamos o desenrolar dos acontecimentos. 9...Axf2+ 10.Re2 0-0 11.Tf1 Ac5 12.Cg5 Cd4+ 13.Rd1 Ce6 14.Ce4 Agora fica claro o que pretendiam as brancas : além do domínio do centro , a pressão no ponto "f7" e o peão atrasado negro em "d7" compensam plenamente a posição algo insegura de seu monarca. 14...d6 [Sem esta jogada é difícil às pretas tanto concluirem o seu desenvolvimento ,como aproveitarem a posição exposta do rei branco. A outra possibilidade 14...Ae7 será analisada na próxima partida.] 15.exd6 Ae3 [Ao que consta esse lance é uma novidade. A principal continuação era: 15...Td8 16.Ad3 Axd6 17.Dh5 f5 18.Cxd6 Dxd6 19.Dxf5 Dxh2 (ou 19...Cf8 20.Df7+ Rh8 21.Df4 , não se vê uma compensação clara pelo peão.) 20.Df7+ Rh8 21.Ag5 e as brancas tem forte iniciativa.; Após 15...Axd6 a partida poderia ter um desfecho elegante : 16.Cxd6 Td8 17.Af4 Cxf4 18.Dxf7+ Rh8 19.Dg8+ ( Unzicker - Sarapu , Siegen ol. 1970 ) 19...Txg8 20.Cf7#] 16.Dd3 Axc1 17.Rxc1 O problema das pretas é que continuam com um peão a menos e , além disso , o monarca inimigo está definitivamente fora de perigo. 17...Ad7 18.b3 Ac6?! Este movimento poderia ter encurtado drasticamente a contenda. Porém, sem ele não se vê como as pretas poderiam reestabelecer o equilíbrio material. 19.Rb2? [A pressa em assegurar a estabilidade do rei atrasou em três jogadas a combinação 19.Txf7 . A sequência natural dos eventos poderia ser: 19...Txf7 (19...Rxf7 20.Cg5+ Re8 21.Cxe6) 20.Axe6 Axe4 21.Dxe4 , a vantagem material branca seria suficiente para a vitória ( 21...Dxd6? 22.Axf7+ Rxf7 23.Dxb7+ ).] 19...Axe4 20.Dxe4 Dxd6 21.Tad1 De7 [Permite a combinação citada anteriormente. De todas as formas depois de: 21...Dc6 22.Dxc6 bxc6 23.Td7 a situação negra seria muito difícil.]



22.Txf7!!
Rxf7
[A captura com a torre 22...Txf7 não salvaria : 23.Dxe6 Dxe6 24.Axe6 Te8 25.Axf7+ Rxf7 26.Td7+] 23.Axe6+ Dxe6 [Outras respostas conduziriam ao mate : 23...Re8 24.Da4+; ou 23...Rf6 24.Df5#] 24.Tf1+ Df6+ [A marcha para o flanco da dama teria um breve final : 24...Re7 25.Dxb7+ Rd6 (25...Dd7 26.Te1+) 26.Td1+ Rc5 27.Dc7+ Rb5 (27...Dc6 28.b4+ Rb5 29.a4+) 28.a4+ Ra6 (28...Rb4 29.c3#) 29.Td6+] 25.Txf6+ gxf6? [25...Rxf6 levaria a uma resistência mais prolongada , embora após 26.Dxb7 seria difícil às negras empreender qualquer ação coordenada das torres , ao passo que o avanço da maioria de peões brancos na ala da dama seria apenas uma questão de tempo.] 26.Dxh7+ Re6 27.Dxb7 Tfd8 28.a4 a5 29.g4 Th8 30.h4 Tag8 31.De4+ Rf7 32.g5 fxg5 33.Df5+ 1-0







(25) Savkin - Tseitlin,M. [B29]

Partida por Correspondência, 1972



1.e4 c5 2.Cf3 Cf6 3.e5 Cd5 4.Cc3 e6 5.Cxd5 exd5 6.d4 Cc6 7.dxc5 Axc5 8.Dxd5 Db6 9.Ac4 Axf2+ 10.Re2 0-0 11.Tf1 Ac5 12.Cg5 Cd4+ 13.Rd1 Ce6 14.Ce4 Ae7 15.c3
As brancas aproveitam o respiro dado para retirar o seu rei da coluna "d" , que está na iminência de se abrir. 15...d6 16.exd6 Td8 17.Rc2 Axd6



18.Txf7!!
O mérito deste sacrifício radica na eliminação do sustentáculo do cavalo de "e6" e , consequentemente , da potencialização da força da dama e do bispo de "c4" ao longo da diagonal "a2-g8". 18...Rxf7 [A qualquer saída do bispo de d6 (por exemplo 18...Ac7 ) seguiria 19.Dh5 , com a ameaça Cf6+.] 19.Cg5+ Re8 [Outras retiradas também não salvariam : 19...Rg8 20.Df5 h6 21.Cxe6 Axe6 22.Axe6+ Rh8 23.Axh6! gxh6 (23...Tf8 24.Dh3 Tf2+ 25.Ad2#; 23...Af4 24.Axf4 Df2+ 25.Rb1 Td1+ 26.Ac1) 24.Df6+ Rh7 25.Af5+ Rg8 26.Dg6+ Rf8 27.Dxh6+ Rf7 (27...Re8 28.Te1+ Ae7 29.Dh8+ Rf7 30.Dh7+) 28.Ag6+ Re6 29.Ae8+ Rd5 30.Td1+ e as pretas receberiam mate.; ou 19...Rf6 20.Cxe6 Af4 21.Cxd8 Af5+ 22.Ad3 Axd3+ 23.Dxd3 Df2+ 24.Ad2 Dxd2+ 25.Dxd2 Axd2 26.Tf1+ Rg6 (26...Re7 27.Tf7+ Re8 28.Txg7) 27.Cxb7 , a vantagem material deveria decidir.] 20.Cxe6 Df2+ [Se 20...Axe6 21.Dxe6+ Ae7 22.Df7+ Rd7 23.Ag5 Dg6+ 24.Dxg6 hxg6 25.Ab5+ Rd6 26.Td1+ Rc7 27.Axe7 , a vitória branca seria simples.; assim como 20...Td7 21.Ab5] 21.Rb3! Db6+ [Tanto 21...Axe6 22.Dxe6+ Ae7 23.Ae3! Df6 24.Ab5+ Rf8 25.Tf1; quanto 21...Td7 22.Ab5 seriam sem esperanças para as negras.] 22.Ab5+ Ad7 23.Cc7+! Um fino arremate . As pretas abandonaram. ( O final poderia ter sido: 23...Rf8 [23...Axc7 24.Dg8+ Re7 25.Ag5+ Rd6 26.Td1+ Rc5 27.Dd5#; 23...Dxc7 24.Dg8+ Af8 25.Af4 Dxf4 26.Te1+] 24.Ae3 Dxe3 25.Dxd6+ Rg8 26.Axd7 ) 1-0







quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Sistema do "Ouriço" (ou "Porco Espinho") - Ruptura d6-d5 Parte II

Olá Pessoal!

Darei continuidade ao artigo passado com mais uma partida em que as pretas conseguem executar a ruptura central d6-d5 em condições ótimas.

(15) Yermolinsky,Alexander - Salov,Valeri [A30]

Wijk ann Zee , 1997



1.Cf3 Cf6 2.c4 c5 3.Cc3 e6 4.g3 b6 5.Ag2 Ab7 6.0-0 Ae7 7.d4 cxd4 8.Dxd4 0-0 9.Td1 Cc6 10.Df4 Db8 11.e4 d6
Esta Variante da Abertura Inglesa é um outro caminho para se chegar ao Sistema do "Ouriço" (ou "Porco Espinho"). 12.b3 Ce5 Dado que a posição é sólida para ambos ,a partida passa a uma fase de manobras em que os dois lados procuram a disposição ideal de suas peças. 13.De3 Ced7 14.De2 a6 15.Cd4 Dc7 16.Ad2 [Era necessário se antecipar a ameaça b5 , porém é provável que 16.Ab2 combinasse melhor com a jogada b3.] 16...Tfe8 17.Tac1 Tac8 18.Ae3 Db8 Assim as pretas completam sua mobilização ótima e a ruptura d6-d5 parece iminente. 19.f3 [Teria sido mais prudente 19.f4 para responder 19...d5 (19...Da8 20.Af2) com 20.e5 ] 19...d5! Um detalhe importante na posição branca é o fato do peão estar em "b3" , o que deixa a casa "a3" debilitada e o cavalo "c3" com pouca proteção. 20.cxd5 exd5 21.exd5? [Com a abertura do centro as brancas deveriam buscar uma máxima atividade para suas peças . Isto se poderia conseguir dirigindo o cavalo para a casa "f5" : 21.Af4 Ad6 22.Axd6 Dxd6 23.Cf5; ou 21.Cf5 diretamente. Com a coluna "e" aberta as pretas estão prontas para aproveitar todo o potencial dinâmico das torres e das peças menores.] 21...Aa3 22.Tc2 Txc3! 23.Txc3 Cxd5 24.Tcd3 Cc5 Após esta sequência forçada as pretas recuperam a qualidade e permanecem com a iniciativa. 25.f4 Cxd3 26.Txd3 Ac5 27.Axd5 Uma decisão que seguramente terá efeitos colaterais, pois a grande diagonal "h1-a8" ficará de posse do bispo negro. No entanto, era preciso aliviar a pressão sobre o ponto "e3". 27...Axd5 28.Cf5 [Este lance perde a qualidade , mas ao menos as ameaças negras mais imediatas chegam a um termo. A questão a saber era se as brancas poderiam se manter com: 28.Cf3 Ac6 29.a4 .A vantagem das pretas seria evidente , mas não se veria uma forma direta de ganho.] 28...Ae4 29.Axc5 Axd3 30.Dxd3 [Claro que se 30.Ce7+ Txe7] 30...bxc5 31.Dc3 f6 32.Dc4+ Rh8 33.Df7 As brancas chegam inclusive a iniciar ações ofensivas contra o rei negro. Entretanto, essa escaramuça é apenas temporária e cedo ou tarde a desvantagem material vai cobrar o seu preço. 33...Tg8 34.h4 De8 35.Dd5 De1+ 36.Rg2 De2+ 37.Rh3 h5 38.Cd6 Dg4+ 39.Rg2 Tf8 40.Rf2 Rh7 41.Dxc5 Td8 42.Dc2+ g6 43.Dc4 Dd7 44.Ce4 De7 45.Dc3 Rg7 Por fim as pretas neutralizam a atividade branca e o seu contra-ataque em breve finalizará a partida. 46.Rf3 Te8 47.Dd3 Db7 Com a mortal ameça f5 (48.Dd4 Rg8 49.Dc4 Rh7). 0-1







domingo, 22 de fevereiro de 2009

Sistema do "Ouriço" (ou "Porco Espinho") - Ruptura d6-d5

Caros amigos

Olá!

Hoje abordarei a estrutura de peões conhecida como Sistema do "Ouriço" (ou "Porco Espinho").

Para aqueles que desejam fazer um estudo mais aprofundado do tema recomendo a obra "Revolução nos anos 70" (Revolution in the 70s) de autoria de Gary Kasparov. No capítulo 1 deste livro ("Hedgehog" System) o ex-campeão mundial além de citar vários exemplos ,também nos conta a história do desenvolvimento e os protagonistas deste sistema.

Mostrarei a seguir dois exemplos em que as pretas conseguem executar seu principal plano : a ruptura d6-d5.

(1) Calçado ,Acyr R. - Matsuura,Everaldo [B44]

Paranavaí, 1988



1.e4 c5 2.Cf3 e6 3.d4 cxd4 4.Cxd4 Cc6 5.Cb5
[Se 5.c4 imediatamente ,as pretas podem se aproveitar do fato que o seu bispo "f8" ainda não está bloqueado : 5...Cf6 6.Cc3 Ab4] 5...d6 6.c4 [ Uma variante em moda nos anos 80. Enquanto que : 6.Af4 e5 7.Ae3 Cf6 8.Ag5 ,foi uma das armas que Fischer utilizou nos matchs contra Taimanov e Petrosian nos anos 70.] 6...Cf6 7.C1c3 a6 8.Ca3 Ae7 [A ruptura "standard" 8...d5 neste momento é precipitada : 9.cxd5 exd5 10.exd5 Cb4 11.Ac4 . Embora Kasparov tenha obtido sucesso em seu match contra karpov em 1985 (que o consagrou como campeão mundial pela primeira vez) ,análises posteriores não confirmaram a correção dessa continuação. (ou 11.Ae2 ) ] 9.Ae3 0-0 10.Ae2 b6 11.0-0 Ab7 12.f4 [Um plano audaz. As brancas ganham mais espaço no centro , mas também deixam o peão e4 mais vulnerável. 12.Db3 Cd7; ou 12.f3 são mais seguros.] 12...Tc8 13.Af3 Te8 Este lance está de acordo com o principal projeto das pretas : a ruptura d6-d5.Como se verá mais adiante é de suma importância a torre estar preparada para a abertura do centro. 14.Tc1 Cb4? [A casa mais apropriada para este cavalo normalmente é d7 ,mas se 14...Cb8 15.Db3 Cbd7 16.Ca4 o peão b6 torna-se um problema.; 14...Dc7 parece perigoso ,pois 15.Cd5 quase sempre é desagradável nesse tipo de posição. Porém uma análise um pouco mais profunda nos revela um outro detalhe fundamental : 15...exd5 16.cxd5 Db8 17.dxc6 Txc6 18.Txc6 Axc6 , as pretas tem a debilidade "d6" ,mas por seu turno as brancas a tem em "e4". Aqui se faz notar o inconveniente do lance f4.; Na verdade por transposição de jogadas depois de 14...Dc7 chega-se a partida Bellon Lopes - Portisch , Las Palmas 1976 , que veremos mais adiante.] 15.Tf2? [Era necessário aproveitar imediatamente a posição insegura do cavalo com 15.Db3 e se 15...d5 (15...Cd3 16.Tcd1 Cc5 17.Axc5 Txc5 18.e5 Axf3 19.Txf3) 16.cxd5 exd5 17.Tfd1 . Aqui vemos um outro fator : a tão sonhada ruptura central encontra um obstáculo se a dama preta ainda se encontra na coluna "d".] 15...Dc7 16.Td2 A idéia das brancas é colocar pressão em d6 e conter o avanço d6-d5. 16...Db8 A dama finalmente encontra um sítio seguro. 17.Db3 [Não compensaria 17.Axb6 devido a 17...Axe4] 17...d5! O desejo de libertação se realiza e sua concretização está facilitada pela má disposição das peças brancas (Ca3, Be3 ,Td2 ,Tc1). 18.cxd5 exd5 19.exd5? [Era imprescindível manter o centro ao menos parcialmente bloqueado : 19.e5 Ce4 20.Tdd1 a5 . A excelente posição dos cavalos negros seria uma boa compensação pelo peão isolado ,mas as brancas estariam fora de perigo. ( 21.Axe4?! (21.Axb6? Ac5+ 22.Axc5 Cxc5) 21...dxe4 22.Axb6 Cd3 .)] 19...Cbxd5 20.Axd5 Cxd5 21.Txd5 [Se 21.Af2 Dxf4] 21...Axd5 22.Cxd5 [22.Dxd5 Axa3 23.bxa3 Txe3] 22...Txc1+ 23.Axc1 Axa3 24.Dxa3 Te1+ Aqui se faz notar a importância da torre estar antecipadamente mobilizada na coluna "e". 25.Rf2 Txc1 Fazendo as contas entre os mortos e feridos as pretas emergem com uma qualidade a mais. 26.Db4 Tc5 27.Ce3 Dd6 28.Cf5? Tc2+ 0-1







(2) Bellon Lopes,Juan M. - Portisch,Lajos [B44]

Las Palmas, 1976



1.e4 c5 2.Cf3 Cc6 3.d4 cxd4 4.Cxd4 e6 5.Cb5 d6 6.c4 Cf6 7.C1c3 a6 8.Ca3 Ae7 9.Ae2 0-0 10.0-0 b6 11.f4 Ab7 12.Af3 Dc7 13.Ae3 Tac8 14.Tc1 Tfe8 15.Tf2
[Era de se considerar 15.Cab1 Ca5 16.b3 ,e o cavalo não ficaria "solto" em "a3".] 15...Aa8 16.Td2 O mesmo plano empregado no exemplo anterior.Uma questão a saber é se esta partida era do conhecimento do Acyr Calçado. Eu a desconhecia totalmente. 16...Ca5 17.b4?! [Agora já não seria possível 17.b3 por causa de 17...d5; Era ,no entanto ,mais prudente 17.Tcc2 para responder a 17...Cxc4 com 18.Cxc4 Dxc4 19.Cd5 e a torre em "c2" está defendida.] 17...d5! [Se 17...Cxc4 18.Cxc4 Dxc4 19.Tb2 Dc7 20.Cd5 e as brancas recuperam o peão. A ruptura padrão do texto está facilitada pelo indefeso cavalo em "a3". ] 18.c5 [Depois de : 18.bxa5 Axa3 19.axb6 Dxc4 as pretas se apoderam da iniciativa.] 18...bxc5 19.exd5? [Tanto 19.bxa5 d4; como 19.bxc5 Axc5 20.Cc2 Cc4 não funcionariam.; Entretanto as brancas ainda dispunham de um recurso : 19.e5 cxb4 (19...d4 20.exf6 Axf6 21.bxa5 dxe3 22.Tdc2 Dxf4 23.Axa8 Txa8 24.De2) 20.Cxd5! Dxc1 21.Cxe7+ Txe7 22.Td8+ Txd8 23.Dxc1 Ted7 24.exf6 Axf3 25.Dc5 Ad5 26.Dxa5 bxa3 27.fxg7 Axa2 28.Dxa3 .É provável que as pretas mantivessem a vantagem , mas as brancas continuariam no páreo.] 19...cxb4 20.d6 Axf3 21.gxf3 [21.Dxf3 Axd6] 21...Db8 22.dxe7 bxc3 23.Tg2 Cc6 24.Txc3 Cxe7 Concluída a fase das complicações a sorte da partida parece estar selada. 25.Tb3 Dc7 26.Da1 Cg6 27.Tc2 De7 28.Cc4 Cd5 29.Ad4 Cgxf4 30.Rh1 f6 31.Db1 e5 32.Af2 De6 33.Ag3 Dh3 0-1

Referência: Esta partida está publicada no Informador n.o 21.







terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Temas Combinatórios

Olá amigos !

Hoje mostrarei uma partida que joguei no Circuito Paulista Dinâmico-Etapa Alphaville , no último sábado (14-02). Nela consegui utilizar um tema combinatório que havia estudado poucos dias atrás no livro "Motivos Combitórios" de autoria do russo Maxim Blokh (na verdade eu estava corrigindo alguns exercícios de um aluno).A partida teve um desfecho não muito afortunado para mim por dois motivos: primeiro , os recursos defensivos eram maiores em relação a posição que havia visto no livro ;e segundo, a excelente defesa do meu adversário,o jovem Luís Guilherme Abdalla.De todas as formas considero o tema instrutivo e sendo assim disponibilizarei dois diagramas da obra citada , além da partida.






(5) Todorcevic - Jean

França, 1969

1.Cxh7! Rxh7 2.Dh5+ Rg8 3.Axg6 Tf7 [Se 3...Td8 4.Ag5+-] 4.Dh7+ Rf8
5.Ah6
Com idéia Dh8#. 5...Axh6 [Não funcionaria : 5...Dxf2+ 6.Rh1
Cf6 7.Dh8+ Cg8 8.Dxg7+ Txg7 9.Te8#] 6.Dxh6+ Dg7 [Outros lances
levariam ao mate : 6...Rg8 7.Te8+ Cf8 8.Txf8+ Txf8 9.Dh7#; 6...Tg7 7.Te8#]
7.Te8+ e as brancas ganham a dama. 1-0





(6) Matsuura,E. (2483) - Abdalla,Luís Guilherme [C06]Circuito Paulista Dinâmico-Alphaville Alphaville (3), 14.02.2009


1.e4 e6 2.d4 d5 3.Cd2 Cf6 4.e5 Cfd7 5.Ad3 c5 6.c3 Cc6 7.Cgf3 g6 [Outras possibilidades seriam : 7...Db6 8.0-0 cxd4 9.cxd4 Cxd4 10.Cxd4 Dxd4 11.Cf3; 7...Ae7 8.0-0 g5!?] 8.0-0 [8.h4!?] 8...Ag7 9.Te1 0-0 10.Cf1 f6 11.exf6 Dxf6 Neste momento recordei-me do diagrama anterior ,o qual havia estudado poucos dias antes, e vislumbrei a possibilidade de chegar a uma situação muito parecida na presente partida. 12.Ag5 Df7 13.Ae3 cxd4 14.cxd4 e5 15.Cg5 Df6 16.Cxh7!? Aqui este lance não merece um ponto de exclamação , pois ao contrário da posição anterior ele não conduz à vitória.Por se tratar de uma partida de xadrez rápido não pude calcular todas as consequências do sacrifício, mas considerei que ao menos teria compensação pelo cavalo.As próximas jogadas são forçadas para ambos os lados. 16...Rxh7 17.Dh5+ Rg8 18.Axg6 Tf7 19.Dh7+ Rf8 20.Cg3 exd4 21.Ah6? [Durante a partida considerei que a continuação : 21.Ch5 dxe3 22.Cxf6 exf2+ 23.Rxf2 Cxf6 seria perigosa para as brancas , pois as pretas contam com três peças pela dama ,além da possibilidade de um xeque descoberto no próximo lance.A partida teria , no entanto , desembocado num xeque perpétuo : 24.Dh4 Ce4+ 25.Rg1 Ad4+ (Nada há de melhor para as pretas) 26.Rh1 Cf2+ 27.Rg1 Ce4+= Esta seria a melhor opção para as brancas , pois com o lance do texto a iniciativa passa às negras.] 21...Cde5! [Um recurso inexistente no exemplo anterior : a cobertura da coluna "e".Se : 21...Axh6 22.Dxh6+ Dg7 (22...Rg8 23.Te8+ Cf8 24.Txf8+ Txf8 25.Dh7#) 23.Te8+ Rxe8 24.Dxg7+- e tudo termina como no diagrama anterior; ou : 21...Cce5 22.Dh8+ Re7 23.Axg7 Dxg6 (23...Dxg7 24.Cf5+) 24.Axe5+- com um ataque decisivo.] 22.Axf7 Rxf7! [Ainda um lance único. Após : 22...Dxh6 23.Dg8+ Re7 24.Axd5+- as pretas estariam em grandes dificuldades.] 23.Axg7 Dxg7 24.Dh5+ Rf8 25.h3 Ad7-/+ O negro finalmente completa seu desenvolvimento e a iniciativa branca chega ao seu fim. 26.Cf5 Axf5 27.Dxf5+ Rg8 28.De6+ Rh8 29.Dxd5 Os seguintes lances foram feitos já sobre o apuro de tempo , o que explica em parte a imprecisão de alguns lances. 29...Td8?! [29...Tf8] 30.De4 d3? 31.f4? [31.Dh4+ Rg8 32.Te3 Td4 33.Dh5<=> e o branco volta a ter chances.] 31...Td4 32.De3 d2?! [32...Cg6] 33.Tf1? [Aqui era necessário sacrificar a qualidade para eliminar o perigoso peão passado : 33.fxe5 dxe1D+ 34.Txe1~~] 33...Cc4 34.De8+ Rh7 35.f5 Df6!-+ Depois deste lance as esperanças brancas se esvaem. 36.Tad1?! [36.Tab1] 36...Cxb2 37.Dh5+ Rg7 38.Tf3 Cxd1 39.Tg3+ Rf8 40.Tg6 Dh4 Uma excelente partida no aspecto defensivo do jovem Luís Guilherme Abdalla ! 0-1








(7) Elderhorst - van Neukerk Holanda, 1987


Neste exemplo o ponto g6 está mais bem protegido , pois há também o peão f7. 1.Cxh7! Rxh7 2.Txf7! Com este outro sacrifício o peão g6 torna-se vulnerável. 2...Txf7 [Se 2...Rg8 3.Axg6 Txf7 4.Dh5 ,a posição seria a mesma da partida.] 3.Dh5+ Rg8 4.Axg6 Tf1+ [Defender a torre não salvaria : 4...Ae6 5.Dh7+ Rf8 6.Ah6 Re8 7.Dxg7+- seguido de Tf1; ou : 4...De8 5.Dh7+ Rf8 6.Ah6 e6 7.Axg7++- Re7 8.Af6+ e as brancas vencem.] 5.Rxf1 Dd7 6.Dh7+ Rf8 7.Ah6 e6 8.Dh8+ 1-0


sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

A Luta contra os "Peôes Colgantes"

Olá Pessoal !

No artigo do dia 20/01 defendi o lado bom dos "Peões Colgantes". Hoje vou defender o lado contrário. A primeira é uma partida do ex-candidato ao título mundial o GM Arthur Yusupov.A segunda é uma partida minha , que foi jogada em uma data anterior àquela.

(3) Yusupov,A. - Klovans,Y. [D53]

Groningen, 1992



1.d4 Cf6 2.Cf3 d5 3.c4 e6 4.Cc3 Ae7 5.Ag5 0-0 6.Tc1 h6 7.Ah4 b6 8.cxd5 Cxd5 9.Cxd5 exd5 10.Axe7 Dxe7 11.g3
[Outra possibilidade seria 11.e3 . Com o lance do texto as brancas esperam pressionar com mais eficiência o ponto "d5".] 11...Ae6 [Aqui ofereceria mais possibilidades de um jogo ativo : 11...Te8 12.Ag2 Aa6 (aproveitando-se do momentâneo enfraquecimento do peao "e2") 13.e3 (se 13.Ce5 as pretas dispõem de um recurso surpreendente : 13...Cd7 ,e se agora : 14.Txc7 (é melhor 14.f4 ) 14...Tac8!! 15.Txd7 Db4+ 16.Rf1 Dxd4! 17.Cd3 Txe2! 18.Rxe2 Te8+ 19.Rf1 Dxd3+ 20.Dxd3 Axd3+ 21.Rg1 Te1+ 22.Af1 Axf1 23.h4 Ad3+ 24.Rh2 Te2 com excelente compensação pela qualidade.) 13...c5 14.Da4 Tc8 15.Ce5 De6] 12.Ag2 Tc8 13.0-0 c5 14.dxc5 bxc5 15.Ce5 [A Variante Tartakower do Gambito da Dama é uma boa fonte de exemplos da estrutura dos "Peões Colgantes".As brancas iniciam agora uma manobra com o cavalo para pressioná-la da forma mais efetiva.Como o leitor já deve saber tal centro de peões pode ter muita força dinâmica , mas sob determinadas circunstâncias também pode representar uma séria debilidade. 15.Ce1 também responderia aos anseios das brancas , com a mesma idéia de levar o cavalo a "d3" , mas com uma vantagem :o seu rival negro já não poderia ir a "d7". E se 15...Cc6 16.Cd3 as pretas encontrariam mais dificuldade em sustentar seus peões.] 15...Cd7 16.Cd3 a posição ideal para o cavalo , pois além de pressionar em "c5" ele pode a qualquer momento ir a "f4" e ,juntamente com o bispo, atacar o outro peão. 16...Tab8 17.b3 d4 Esta decisão é compreensível já que as pretas se livram da necessidade da proteção deste peão e ganham mais espaço no centro. Porém a estrutura central perde flexibilidade devido ao caráter bloqueado. 18.Cf4 Af5 [As pretas deveriam ter considerado a possibilidade de operações ativas no flanco da dama com 18...a5 ,seguido de a4.] 19.Te1! Cf6 20.e4! dxe3 [Abster-se da troca conduziria a uma posição passiva : 20...Ae6 21.e5 Cd7 22.Cd5] 21.Txe3 Como muitas vezes acontece o peão " e" é trocado pelo "d" e a única coisa que resta dos "Colgantes" é uma debilidade em "c5".Além disso a partida adquire um caráter aberto em que a atividade das peças brancas é preponderante.. 21...Dc7 22.De1 Db6 [As pretas não caem na armadilha : 22...Te8 23.Cd5 Txe3 24.Cxf6+ gxf6 25.Dxe3 com um total colapso da estrutura de peões das negras.] 23.Te7 a5 Uma tentativa que deveria ter sido executada muitos lances atrás. De todas as formas é difícil encontrar outro tipo de contra-jogo. 24.De5 Ah7 25.Te1 Tf8 [Após 25...a4 existiria o perigo da primeira fila : 26.Cd5 Cxd5? 27.Te8+ Txe8 28.Dxe8+ Txe8 29.Txe8#] 26.Ad5 a4 [26...Cxd5 27.Cxd5 Dd8 28.Cf4 com a dupla ameaça : Dxa5 e Ch5.] 27.Ac4 axb3 28.axb3 Db4 29.h3 Ac2 30.Te3 O branco reforça paulatinamente sua posição e seu oponente está impossibilitado de qualquer empreendimento efetivo. 30...Tbd8 31.Dc7 Td1+ 32.Rg2 Rh8 33.Txf7 Txf7 34.Dxf7 Neste momento as pretas excederam o limite de tempo. De qualquer maneira, fosse qual fosse a jogada negra, a posição seria indefensável como o leitor mesmo pode comprovar. 1-0





(4) van Riemsdyk,Dirk Dagobert - Matsuura,Everaldo [A30]

Goiânia, 1988



1.Cf3 Cf6 2.b3 g6 3.Ab2 Ag7 4.e3 c5 5.Ae2 0-0 6.c4 Cc6 7.0-0 b6 8.d4 cxd4 9.exd4 d5 10.Ce5 Ab7 11.Af3 Tc8 12.De2
[Teria sido mais prudente terminar imediatamente o desenvolvimento com 12.Cc3 e após : 12...dxc4 13.bxc4 Aa8 14.Axc6 Axc6 15.Te1 ,as brancas poderiam manter satisfatoriamente os seus peões centrais.] 12...dxc4 13.Cxc6 [Eliminar o cavalo de "c6" é uma medida necessária , pois se : 13.bxc4? Cxd4 14.Axd4 Dxd4 , as pretas ganham peão.; Entretanto , talvez fosse melhor tomar com o bispo para diminuir a simplificação : 13.Axc6 Axc6 14.bxc4 Ab7] 13...Axc6 14.Axc6 Txc6 Depois de todas essas trocas as pretas ficaram em posição favorável para pressionar o par central branco , enquanto que as brancas ainda não concluiram seu desenvolvimento. 15.bxc4 Se o bispo e a torre branca estivessem em e3 e c1 e a torre e o peão negro em c8 e b6 respectivamente , teríamos uma posição idêntica a partida anterior (com as cores invertidas). Na atual circunstância será mais facil às negras tomar a iniciativa. 15...Ce8! Uma manobra já familiar. 16.Td1 Cd6 17.Cd2 Dc7 18.Tac1 Tc8 19.Aa1 e6 20.d5? [Era possível salvar o peão com 20.c5! Cf5 (a captura 20...bxc5 21.dxc5 Txc5? 22.Txc5 Dxc5 23.Axg7 Rxg7 24.Cb3 Dc6 25.De5+ perde o cavalo de d6.) 21.Ce4 Td8 22.Dc4 Ce7 , embora as pretas pudessem continuar pressionando os peões brancos.] 20...exd5 21.Axg7 Rxg7 22.De5+ Rg8 23.Dxd5 Cxc4 24.Ce4 De5 25.f4? [Depois desse lance as brancas perdem um segundo peão.Após 25.Dxe5 Cxe5 26.Txc6 Txc6 ,as pretas teriam todas as chances de ganhar o final , mas a luta prosseguiria.] 25...Dxf4 26.Tf1 Ce3! 27.Dxc6 Txc6 28.Txf4 Txc1+ Agora o resultado pode considerar-se definido. 29.Rf2 Cd5 30.Tf3 Tc2+ 31.Rg3 Txa2 32.Td3 Ce7 33.Td7 Cf5+ 34.Rf4 Txg2 35.h3 Rg7 36.Txa7 h6 37.Tb7 Tb2 38.Re5 Tb5+ 39.Rf4 Tb4 40.Td7 Cg3 41.Rxg3 Txe4 0-1